ATTENAS AULAS

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GRANDE ENTREVISTA COM O GENIAL SHAKESPEARE



Sobre mim

Tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. Antes da fama, porém, eu era conhecido como o Bardo de Avon, por causa de minha habilidade em vender produtos de beleza por catálogo.

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Mais uma adaptação de Shakespeare.

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HARLEM SHAKESPEARE
Se nos últimos dois meses você frequentou o YouTube e o Facebook, certamente está familiarizado com o fenômeno Harlem Shake. Agora, se esteve em coma, em Marte ou imerso no mundo acadêmico, não tem importância, eu explico.

Harlem Shake é um meme. Não sabe o que é meme? Assim nosso diálogo fica difícil. Parece que estou escrevendo em inglês arcaico. Para simplificar a coisa, Harlem Shake é um vídeo que pessoas do mundo inteiro adoram parodiar ou fazer suas versões, como queira. O vídeo original, já com 43 milhões de views, mostra quatro homens dançando ao som da música Harlem Shake, do DJ americano Baauer. Um veste o uniforme do Power Rangers, outro está com uma máscara de chinês, um terceiro usa uma malha cor-de-rosa da cabeça aos pés e o último, com roupa de Lycra prateada, aparenta um ET de filme B.

Nos 36 segundos de vídeo, os quatro integrantes fazem movimentos que simulam a fornicação e, depois de uma certa passagem da música, iniciam uma coreografia desconjuntada e aleatória. Não se sabe como nem por que pessoas no mundo inteiro passaram a fazer seus próprios vídeos de Harlem Shake, porém, usando uma estrutura um pouco diferente. Nas paródias, em geral, vemos um espaço comum que pode ser uma empresa, uma cafeteria, uma praça, um quarto de hotel, onde pessoas estão concentradas nos seus afazeres. A normalidade da cena é quebrada pela entrada de alguém (muitas vezes com capacete na cabeça para gerar maior estranhamento), dançando Harlem Shake. Ninguém dá a mínima para o dançarino nem olha para ele. Quando a música atinge seu clímax e dá a virada (na letra, a voz comanda: Do the Harlem Shake), um corte abrupto é feito no vídeo. Em seguida, vemos todos os integrantes da cena, a maioria agora com adereços e fantasias das mais variadas, dançando de forma alucinada, desconjuntada e sexualizada. A imagem geral é de um bacanal ou de um hospício ou ainda de uma festa regada a algo que é fora da lei, inclusive na Holanda.

E por qual razão eu, o grande nome da literatura mundial de todos os tempos, estou a falar de um meme da internet? Ora, ora, ora, não resisti à aproximação fonética entre Harlem Shake e Harlem Shakespeare. Aliás, não fui o único. Dei um search e vi que já há alguns vídeos postados com esse título. Mas nenhum realizou a fantasia que minha imaginação se pôs a operar. Estimulado pelo jogo de palavras, pensei num vídeo com o seguinte script:

Cenário: Noite fria do castelo de Elsinore, Dinamarca.
Vemos membros da corte no mesmo ambiente.

Gertrudes, mãe de Hamlet, troca olhares discretos com Cláudio – novo rei da Dinamarca, irmão e assassino do pai de Hamlet.

Rosencrantz e Guildenstern, amigos de infância de Hamlet júnior, jogam uma partida de Fifa 13.

Polônio, primeiro-ministro e conselheiro do rei Cláudio, faz anotações em seu caderno.

Horácio, amigo de Hamlet, conversa com dois sentinelas.

Ofélia, filha de Polônio, lixa as unhas e solta leves suspiros.

Laertes, filho de Polônio e irmão de Ofélia, e Fórtinbras,rei da Noruega, não estão presentes.

De repente, entra em cena o fantasma do pai de Hamlet dançando como se estivesse fazendo apoio sobre o solo, só que de pé. Todos no ambiente nem reparam a presença do vulto do rei morto. Alguns apenas colocam a mão no nariz, dando a entender que estão sentindo algo de podre no reino da Dinamarca.

A música se encaminha para a virada. Ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta... O fantasma aumenta o ritmo dos movimentos. Ouve-se, finalmente, a convocação ...And do the Harlem Shakespeare. Corte rápido. No plano seguinte, todos estão dançando como que possuídos.

Gertrudes e Cláudio se esfregam como se estivessem num baile funk. Cada vez que a rainha toma um gole do cálice de veneno rebola até o chão. O fantasma, sem sucesso, tenta afastá-los.

Rosencrantz e Guildenstern atravessam o recinto, de cabeça para baixo, pendurados em trapézios, na tentativa de atrair a atenção de Hamlet.

Ofélia anda de quatro como uma demente e de tempos em tempos simula um afogamento.

Fórtinbras e seu exército invadem a cena dançando militarmente a Macarena. Em seguida se dispersam e cada um vai praticar seu solo.

Hamlet segura uma caveira numa das mãos e com a outra esfaqueia coreograficamente Polônio e Cláudio, enquanto recebe, ao mesmo tempo, golpes da espada de Laertes, que por sua vez usa uma caixa na cabeça, afinal, é preciso respeitar as tradições do gênero.

Fim do vídeo. O resto é silêncio. Aposto que nem o Zé Celso Martinez pensou numa adaptação como esta.
MITXCHELLL

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