ATTENAS AULAS

domingo, 28 de abril de 2013

PERIGO MUITO PERIGO: MARCONI PERIGO!


De Marconi Perillo a Mister Magoo

de Goiânia
Mr. Magoo, o simpático personagem de desenho animado criado nos Estados Unidos em 1949, é um velhote que se mete em enormes confusões por ser praticamente cego. E aparece aqui neste texto na cota de humor de um enredo de espionagem e ilegalidades desenhado e comandado de gabinetes do Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás, e sob as ordens do governador Marconi Perillo. “Mr. Magoo” é o codinome de um hacker, cuja identidade está prestes a ser desvendada pelo Ministério Público Federal, contratado para operar uma rede ilegal de grampos telefônicos, criar perfis falsos na internet e invadir a privacidade de dezenas de adversários e até de aliados de Perillo. O contato com o hacker era intermediado por um casal de radialistas de Goiânia, Luiz Gama e Eni Aquino.
A cadeia de comando do núcleo de espionagem. Fotos: Geraldo Magela/Ag. Senado, O Popular. Diário da Manhã e Cristiano Borges/ O Popular
A cadeia de comando do núcleo de espionagem. Fotos: Geraldo Magela/Ag. Senado, O Popular. Diário da Manhã e Cristiano Borges/ O Popular
Em 2011 e 2012, “Mr. Magoo”, dono de uma “visão cibernética” invejável, ao contrário do personagem do desenho, serviu ao esquema com grande eficiência. A partir das encomendas de Gama e Aquino por e-mails e mensagens diretas via Twitter, o hacker montou um fenomenal arquivo de informações retiradas de computadores invadidos e telefones celulares grampeados. Pelos serviços, recebia entre 500 e 7 mil reais, a depender da complexidade do trabalho e do alvo em questão. O dinheiro saía de duas fontes antes de passar pela mão do casal de radialistas, segundo documentos obtidos por CartaCapital. No início, o responsável pelos pagamentos era o jornalista José Luiz Bittencourt, ex-presidente da Agência Goiana de Comunicação. Na fase seguinte, a operação passou a ser de responsabilidade de Sérgio Cardoso, cunhado de Perillo, atual secretário estadual extraordinário de Articulação Política.
Além da participação do governador e de assessores diretos no esquema de grampo e invasão de perfis na rede mundial de computadores, as trocas de mensagens dos radialistas com “Mr. Magoo” revelam que o governo de Goiás teria se utilizado de hackers oriundos de São Paulo e Minas Gerais. O radialista sustenta ainda que parte desse serviço importado chegou ao estado por meio de um contrato firmado com a SMP&B, agência de publicidade que pertenceu a Marcos Valério de Souza, figura central dos escândalos dos “mensalões” do PT e do PSDB.
*Leia matéria completa na Edição 746 de CartaCapital, já nas bancas

MiTxChELLLL HISTORIADOR, FILOSOFO E PEDAGOGO EXTERMINADOR DE POLÍTICO LACAIO E CORRUPTO EXPLORADORES DO POVO! 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

GRANDE ENTREVISTA COM O GENIAL SHAKESPEARE



Sobre mim

Tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. Antes da fama, porém, eu era conhecido como o Bardo de Avon, por causa de minha habilidade em vender produtos de beleza por catálogo.

Sobre o blog

Mais uma adaptação de Shakespeare.

Arquivo do blog



HARLEM SHAKESPEARE
Se nos últimos dois meses você frequentou o YouTube e o Facebook, certamente está familiarizado com o fenômeno Harlem Shake. Agora, se esteve em coma, em Marte ou imerso no mundo acadêmico, não tem importância, eu explico.

Harlem Shake é um meme. Não sabe o que é meme? Assim nosso diálogo fica difícil. Parece que estou escrevendo em inglês arcaico. Para simplificar a coisa, Harlem Shake é um vídeo que pessoas do mundo inteiro adoram parodiar ou fazer suas versões, como queira. O vídeo original, já com 43 milhões de views, mostra quatro homens dançando ao som da música Harlem Shake, do DJ americano Baauer. Um veste o uniforme do Power Rangers, outro está com uma máscara de chinês, um terceiro usa uma malha cor-de-rosa da cabeça aos pés e o último, com roupa de Lycra prateada, aparenta um ET de filme B.

Nos 36 segundos de vídeo, os quatro integrantes fazem movimentos que simulam a fornicação e, depois de uma certa passagem da música, iniciam uma coreografia desconjuntada e aleatória. Não se sabe como nem por que pessoas no mundo inteiro passaram a fazer seus próprios vídeos de Harlem Shake, porém, usando uma estrutura um pouco diferente. Nas paródias, em geral, vemos um espaço comum que pode ser uma empresa, uma cafeteria, uma praça, um quarto de hotel, onde pessoas estão concentradas nos seus afazeres. A normalidade da cena é quebrada pela entrada de alguém (muitas vezes com capacete na cabeça para gerar maior estranhamento), dançando Harlem Shake. Ninguém dá a mínima para o dançarino nem olha para ele. Quando a música atinge seu clímax e dá a virada (na letra, a voz comanda: Do the Harlem Shake), um corte abrupto é feito no vídeo. Em seguida, vemos todos os integrantes da cena, a maioria agora com adereços e fantasias das mais variadas, dançando de forma alucinada, desconjuntada e sexualizada. A imagem geral é de um bacanal ou de um hospício ou ainda de uma festa regada a algo que é fora da lei, inclusive na Holanda.

E por qual razão eu, o grande nome da literatura mundial de todos os tempos, estou a falar de um meme da internet? Ora, ora, ora, não resisti à aproximação fonética entre Harlem Shake e Harlem Shakespeare. Aliás, não fui o único. Dei um search e vi que já há alguns vídeos postados com esse título. Mas nenhum realizou a fantasia que minha imaginação se pôs a operar. Estimulado pelo jogo de palavras, pensei num vídeo com o seguinte script:

Cenário: Noite fria do castelo de Elsinore, Dinamarca.
Vemos membros da corte no mesmo ambiente.

Gertrudes, mãe de Hamlet, troca olhares discretos com Cláudio – novo rei da Dinamarca, irmão e assassino do pai de Hamlet.

Rosencrantz e Guildenstern, amigos de infância de Hamlet júnior, jogam uma partida de Fifa 13.

Polônio, primeiro-ministro e conselheiro do rei Cláudio, faz anotações em seu caderno.

Horácio, amigo de Hamlet, conversa com dois sentinelas.

Ofélia, filha de Polônio, lixa as unhas e solta leves suspiros.

Laertes, filho de Polônio e irmão de Ofélia, e Fórtinbras,rei da Noruega, não estão presentes.

De repente, entra em cena o fantasma do pai de Hamlet dançando como se estivesse fazendo apoio sobre o solo, só que de pé. Todos no ambiente nem reparam a presença do vulto do rei morto. Alguns apenas colocam a mão no nariz, dando a entender que estão sentindo algo de podre no reino da Dinamarca.

A música se encaminha para a virada. Ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta... O fantasma aumenta o ritmo dos movimentos. Ouve-se, finalmente, a convocação ...And do the Harlem Shakespeare. Corte rápido. No plano seguinte, todos estão dançando como que possuídos.

Gertrudes e Cláudio se esfregam como se estivessem num baile funk. Cada vez que a rainha toma um gole do cálice de veneno rebola até o chão. O fantasma, sem sucesso, tenta afastá-los.

Rosencrantz e Guildenstern atravessam o recinto, de cabeça para baixo, pendurados em trapézios, na tentativa de atrair a atenção de Hamlet.

Ofélia anda de quatro como uma demente e de tempos em tempos simula um afogamento.

Fórtinbras e seu exército invadem a cena dançando militarmente a Macarena. Em seguida se dispersam e cada um vai praticar seu solo.

Hamlet segura uma caveira numa das mãos e com a outra esfaqueia coreograficamente Polônio e Cláudio, enquanto recebe, ao mesmo tempo, golpes da espada de Laertes, que por sua vez usa uma caixa na cabeça, afinal, é preciso respeitar as tradições do gênero.

Fim do vídeo. O resto é silêncio. Aposto que nem o Zé Celso Martinez pensou numa adaptação como esta.
MITXCHELLL

domingo, 14 de abril de 2013

QUE O deus MERCADO A RECEBA DE BRAÇOS ABERTOS!



Reposicionamento de vida

Como todos sabem, passei recentemente por um reposicionamento de vida, processo também conhecido como “morte” para os não adeptos do neoliberalismo. Pra provar a eficiência do meu modelo, que não desperdiça nada e está sempre em crescimento, vim rapidamente postar alguma coisa aqui neste blog. A verdade é que com o Estado mínimo, até a morte é mais dinâmica.

Meu reposicionamento, porém, até agora, não tem sido dos mais satisfatórios. Esperava ser recebida pelo Deus Mercado, mas estou na fila (enorme, por sinal), com uma senha na mão, esperando o atendimento. Parece que me enviaram pra uma estatal dos anos 1980. Garanto que se houvesse uma ampla concorrência no além, o serviço seria melhor.

Já pude perceber que, obviamente, o além é capitalista (óbvio, pois os comunistas são ateus). No entanto, é um estado keynesiano: inchado e cheio de intervenções no dia a dia das pessoas. Por exemplo, pra que tanto anjo? Fica parecendo que houve uma crise e, pra manter a economia espiritual ativa, contrataram todo mundo. Uma espécie de New Deal divino. Tudo errado.

Mas acredito que minha chegada possa mudar essa situação. Pra começar, vou propor que façamos duros ajustes. Temos que aproveitar que anjo não tem sindicato e cortar a metade do pessoal. Só ficarão os que aceitarem contrato como PJ.

E não para por aí. Vamos privatizar os diversos setores: nascimentos, recepção de orações, análise de pedidos, milagres, morte, etc. Já imaginou um call center, provavelmente num país qualquer em desenvolvimento, pra receber a todas as orações?

Agora, talvez você se pergunte o que vou fazer caso meu projeto não dê certo. Não sei, só espero que esqueçam que fiz triplicar a pobreza das crianças na Inglaterra e apoiei o apartheid. Ou terei que enviar o messias Adam Smith para o sacrífico. Vai que funciona, né?

Sobre mim

A mulher do Homem de Ferro, com o rosto da Meryl Streep.

Sobre o blog

Este espaço é regulado pelas premissas do neoliberalismo. Você tem a livre iniciativa de curtir e comentar. Só não espere que eu faça a moderação: a gente deixa isso com a mão invisível do mercado.

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MiTxCHELLL HISTORIADOR, FILOSOFO E PEDAGOGO ESTUDANTE  
ETERNO! PECADOR SALVO! 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SIMULADO DE ELITE


6º ANOS -GABARITO

I: C
II: D
III: A
IV: B
V: D
VI: C

SIMULADO 8º ANOS

GABARITO:
I.                    D
II.                  B
III.              C
IV.              D
V.                 A
VI.             B


9º ANOS -GABARITO
I: B
II: D
III: A
IV: C
V:B
VI: D



1º ANO Religião – GABARITO
I.                    LETRA: C
II.                  LETRA: A
III.                LETRA: B
 IV:        LETRA: B
V:           LETRA: D
VI:          LETRA: D

amorashopia.blogspot.com
MITXCHELLL HISTORIADOR FILOSOFO PEDAGOGO ESTUDANTE ETERNO! 








quinta-feira, 11 de abril de 2013

AULA DE RELIGIÃO: CRISTIANISMO 1º B


Cristianismo - História do Cristianismo
Muitas doutrinas cristãs diferenciadas entre si surgiram desde as primitivas comunidades cristãs. A origem destas comunidades deu-se em plena expansão do Império Romano. Como o Imperador romano era também a figura religiosa máxima do Império, quaisquer seitas eram prejudiciais ao seu poder absoluto. Desta forma, as comunidades cristãs deste período foram perseguidas. No entanto, mais tarde, o Império Romano adotaria as crenças cristãs como sua religião oficial, ocorrendo assim a fundação da Igreja de Roma. A partir desta, originaram-se as diversas doutrinas cristãs. 

Com a excomunhão do Patriarca de Constantinopla pelo Papa, em 1054, gerou-se um cisma e, como conseqüência, a fundação de uma outra doutrina, a Igreja Ortodoxa, cuja concentração de fiéis localiza-se mais ao leste europeu e porções centrais ao longo do continente asiático. Por outro lado, séculos mais tarde, a Reforma, desencadeada por Martinho Lutero, foi um movimento de contestação aos preceitos religiosos e à própria organização clerical católica. Assim, surgiram diversas doutrinas, sob a ordem do protestantismo. Ao longo dos tempos, foram várias as religiões originadas a partir desta ramificação (Igreja Luterana, Igreja Metodista, Igreja Presbiteriana, Igreja Anglicana etc.).
 

O marco fundamental da origem do cristianismo refere-se ao nascimento de Jesus Cristo. Uma série de feitos miraculosos são vinculados à figura de Jesus. Neste período, a disseminação da religião pelas camadas mais populares deveu-se à dedicação nas pregações realizadas pelos doze apóstolos de Cristo (André, Bartolomeu, Felipe, Tiago, Tiago filho de Alfeu, João, Judas Iscariotes, Judas Tadeu, Mateus, Pedro, Tadeu e Tomás). Mas a grande expansão cristã deu-se, séculos mais tarde, com a própria expansão colonial dos povos cristãos europeus colonizadores, que levaram a fé cristã para além-mar, no período das Cruzadas. No Brasil, a fé cristã foi trazida inicialmente pelos primeiros catequizadores da Companhia de Jesus.
 

O calendário internacional toma o nascimento de Jesus Cristo como marco referencial para a contagem dos anos. As datas cristãs comemoradas são o Natal (nascimento de Jesus Cristo), o Dia de Reis, a Quaresma e a Páscoa. A Ascensão e os Pentecostes também constituem datas comemorativas, embora sejam mais difundidas apenas entre os seguidores de algumas das doutrinas originadas do Cristianismo.
 

A Bíblia Sagrada, constituindo a obra central para o Cristianismo como um todo, encerra as idéias fundamentais da crença. O Cristianismo baseia-se na crença monoteísta, ao contrário das crenças contemporâneas à sua origem. Segundo a religião, Deus é o criador de todas as coisas no Universo, tendo criado o mundo em sete dias (Gênese). As religiões cristãs preconizam o amor a Deus e ao próximo, conforme os ensinamentos de Jesus. Acredita-se na ressurreição de Cristo e é estabelecido o conceito da Santa Trindade, em que Deus é o pai, Jesus Cristo o filho, e o Espírito Santo a presença contínua de Deus na Terra.
No cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33 830 denominações cristãs. Desde a Reforma o cristianismo é dividido em três grandes ramos:

Catolicismo romano: composto pela Igreja Católica Apostólica Romana (que inclui as Igrejas Orientais de rito católico) e que hoje congrega o maior número de fiéis; 
Ortodoxia: origináŕia da primeira grande cisma cristã é constituída por duas grandes igrejas ortodoxas - a grega e a russa - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na liturgia. Há ainda um terceiro ramo, a igreja de rito Copta, que surgiu no Norte de África; 
Protestantismo: originária da segunda grande cisma cristã (Reforma Protestante), no século XVI, e engloba grande número de movimentos e igrejas distintos. Atualmente o movimento protestante está dividido em três vertentes: 
Igrejas Históricas: resultado direto da reforma protestante. Destacam-se nesta vertente os luteranos, anglicanos , presbiterianos e batistas. 
Igrejas Pentecostais: originárias em movimento do início do século XX é baseando na crença na presença do Espírito Santo na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc. Destacam-se nesta vertente a Igreja Assembléia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular. 
Igrejas Neopentecostais: originárias na segunda metade do século XX de dissidências das igrejas pentecostais. Destacam-se nesta vertente a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Evangélica Cristo Vive, Missão Cristã Pentecostal e Igreja Pentecostal de Nova Vida. 
Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do Cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias:

Para-protestantismo: são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante". Nesta categoria estão enquadrados os Mórmons, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová, entre outras denominações. 
Cristianismo primitivo: são as igrejas cujas bases são anteriores ao estabelecimento do catolicismo e da ortodoxia. É o caso das igrejas não-calcedonianas e da Igreja Assíria do Oriente (Nestoriana). 
Cristianismo esotérico: é a parte mística do Cristianismo, e compreende as escolas cristãs de mistérios. A este ramo pertence o Gnosticismo e o Rosacrucianismo. 
Espiritismo: para uma parte dos seus seguidores no Brasil o movimento espírita inspirado em Kardec, também denominado de kardecismo, é abordado como uma nova forma de cristianismo. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã. Outros dos seguidores do espiritismo não aceitam esta relação e consideram que o espiritismo é efetivamente uma nova religião.


MiTxCHELLL HISTORIADOR, FILOSOFO,PEDAGOGO, ESTUDANTE ETERNO, DUBLÊ DE TEOLOGO E PECADOR SALVO PELA GRAÇA DE DEUS! 

AULA DE RELIGIÃO: ESPIRITISMO 1º C e D


Espiritismo , que religião é essa?
Jesus Cristo não é o enviado de Deus à Terra. É apenas um espírito mais evoluído que serve de guia para toda a humanidade.
Por Leandro Sarmatz / Alceu Nunes

Criado por um pedagogo, o Espiritismo surgiu na França no século XIX. Hoje, o Brasil possui a maior comunidade espírita do mundo. Saiba tudo sobre a religião que considera a morte apenas uma etapa da evolução pessoal e que acredita na vida em outros planetas
Jesus Cristo não é o enviado de Deus à Terra. É apenas um espírito mais evoluído que serve de guia para toda a humanidade.
A morte de um ente querido, por mais dolorosa que seja, não deve ser encarada de forma absolutamente negativa. Muitas vezes, é apenas o encerramento de uma missão no mundo dos vivos.
Vivemos cercados de espíritos, alguns bons, outros ruins.
As afirmações acima – que batem de frente com os princípios fundadores de muitos credos, entre eles a fé católica e todas as demais religiões dela derivadas – costumam ser proferidas de maneira desassombrada pelos espíritas em centenas de centros espalhados pelo Brasil. Pudera. Fazem parte das idéias básicas de uma religião professada por 2,3 milhões de brasileiros, segundo o último censo do IBGE.
A enorme receptividade do Espiritismo no Brasil é mais um dos inúmeros paradoxos da fé em terras tupiniquins. Embora a pátria-mãe do Espiritismo seja a França – país de Allan Kardec, o homem que, no século XIX, compilou e decodificou os princípios que até hoje orientam os 15 milhões de adeptos no mundo todo –, foi no Brasil que essa religião, gestada numa era em que a ciência se desenvolvia vertiginosamente, encontrou terreno fértil para se alastrar do Oiapoque ao Chuí. Por quê? A resposta está tanto no Espiritismo quanto no povo brasileiro.
O QUE É
Religião ou doutrina? Se você perguntar a algum freqüentador assíduo de centro espírita, provavelmente receberá a seguinte resposta: o Espiritismo é uma doutrina revelada pelos espíritos superiores a Allan Kardec, que a codificou em cinco obras: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1859), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1863), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868).
Mas isso explica muito pouco. Doutrinas há de todas as cores e matizes ideológicos. O Marxismo também é uma doutrina baseada em um livro fundamental (no caso, O Capital, de Karl Marx), mas nem por isso deve ser encarado como uma religião. A Psicanálise, também. Assim ocorre com outras filosofias. A diferença básica está na forma de encarar a realidade. “Se você explica a realidade social pela realidade transcendente, sua visão é religiosa”, afirma Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, professora do Departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estudiosa do Espiritismo no Brasil. Isso quer dizer que, sim, o Espiritismo é uma religião – pois apresenta toda uma série de explicações espirituais e divinas para eventos tão comezinhos quanto o mau humor do seu vizinho e tão devastadores quanto a morte de alguém em sua família.
Típico rebento do século XIX – o mesmo das teorias evolucionistas de Charles Darwin, da Tabela Periódica, da redescoberta das filosofias orientais e do Positivismo de Auguste Comte –, o Espiritismo consegue a proeza de mesclar Catolicismo primitivo (caridade), Budismo (reencarnações), Darwin (evolucionismo) e um caldeirão de credos esotéricos que estavam em plena voga nos anos 1800 – e que geraram filosofias tão diversas como o Espiritualismo de Emannuel Swedenborg e a Teosofia de Madame Blavatsky. “É uma religião de síntese”, afirma Maria Laura.
E só poderia ser assim mesmo. Seu iniciador, Allan Kardec (1804-1869), era um pedagogo que fundou na própria casa um curso gratuito de Química, Física, Anatomia e outras ciências que galvanizaram as mentes curiosas do século XIX e ajudaram a preparar o terreno para as revoluções científicas da nossa era. Kardec inclusive chegou a estudar Medicina, mas logo abandonou os planos de atuar nessa profissão. É por essa razão que, desde o início do movimento espírita, ele sempre fez questão de apresentar, com um vocabulário inspirado nas ciências, eventos como comunicação com espíritos e o movimento de objetos sem ação humana aparente. Num texto bastante famoso, o iniciador do Espiritismo explica seu método: “Apliquei a esta nova ciência, como tinha feito até então, o método de experimentação; nunca elaborei teorias preconcebidas: eu observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências...”.
A identificação explícita com o método de dedução científica foi uma tentativa de livrar o Espiritismo da pecha de irracionalidade num tempo em que a Razão era um verdadeiro dogma. E também foi – numa estratégia inversa – uma afirmação do Espiritismo como reunião de doutrinas religiosas, científicas e filosóficas para fazer frente às verdades incontestáveis da Igreja Católica. E essa, logo iria mostrar seu desagrado com a nova religião. Porque a afirmação do Espiritismo foi uma luta difícil e demorada, como se verá a seguir.
COMO SURGIU
Um dia, andando pelas ruas de Paris, Hippolyte Léon Denizard Rivail encontrou-se com um amigo de nome Carlotti, que lhe descreveu uma série de eventos extraordinários, supostamente provocados pela ação direta de espíritos.
Curioso e ainda descrente, Rivail começou a freqüentar algumas reuniões – e teria visto seu ceticismo virar picadinho ao observar mesas e outros objetos ganharem movimento sem a ajuda de qualquer pessoa ou mecanismo especial. Disposto a entender esses fenômenos, Rivail mergulhou no estudo de várias correntes do misticismo e começou (num gesto que viria confirmar suas inclinações científicas) a experimentar e repetir vários daqueles que seriam fenômenos de comunicação com o mundo dos mortos.
Numa das sessões que presenciava, Rivail ouviu de um médium que ele já fora um celta chamado Allan Kardec. E que, como Kardec, ele deveria reunir os muitos ensinamentos e conclusões dos últimos séculos numa doutrina que propagasse os ideais de Cristo e trouxesse alívio para os corações dos homens. Imbuído desse espírito (sem trocadilhos), Kardec começou a trabalhar na síntese que gerou o Espiritismo.
Em 1857, Kardec trouxe à luz O Livro dos Espíritos. É a partir dessa obra que se pode falar em Espiritismo (a palavra, aliás, é um neologismo cunhado pelo próprio Kardec para diferenciar a nova religião dos inúmeros espiritualismos que estavam na moda). E – outro elemento de diferenciação com as demais religiões – tinha a retórica livremente inspirada no vocabulário e no método expositivo dos livros de ciências naturais do século XIX. Uma linguagem sintética, facilmente compreensível e nada hermética.
Contudo, a nova religião iria despertar a fúria da Igreja Católica. Os motivos dão força a um debate que, mesmo hoje, mais de cem anos depois, ainda inflamam adeptos e estudiosos acadêmicos. Primeiro motivo: no Espiritismo, Cristo não é o filho de Deus – mas um espírito mais evoluído. Segundo motivo: a Redenção no Catolicismo é um evento único, total, universal. No Espiritismo ela se dá em conta-gotas, a cada passo da evolução de cada um dos espíritos.
Só essas duas diferenças já serviriam para provocar uma cisão. Sem falar na possibilidade de reencarnação, que não existe no Catolicismo. Mas – pelo menos entre os espíritas – a identificação com a fé cristã é total. “A fé espírita é baseada nos ensinamentos de Jesus: logo, é uma religião cristã”, afirma Durval Ciamponi, presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo.
“O Espiritismo não é uma religião cristã”, diz Antônio Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores estudiosos da religiosidade brasileira. “Os espíritas utilizam o Cristianismo para se legitimarem.” Pierucci vai mais longe. Afirma que esse vínculo com a Igreja Católica pregado pelos espíritas serviu, durante décadas, para lutar contra a discriminação: “O Espiritismo faz força para não parecer uma religião exótica”.
Esse alinhamento com os evangelhos pode ser explicado pelas perseguições sofridas pelos adeptos do Espiritismo. Já em 1861, o bispo de Barcelona, na Espanha, promoveu um auto-de-fé com livros espíritas. Uma enorme fogueira queimou os livros de Kardec. Junto com a Igreja, nessa mesma época cientistas e políticos europeus (influenciados pela Igreja ou não encontrando na doutrina o rigor que ela declarava ter) iniciaram uma poderosa campanha de difamação do Espiritismo.
No final das contas, grande parte dos estudiosos acadêmicos do Espiritismo considera a religião uma espécie de neocristianismo. “Jesus
Cristo é um elemento comum entre as duas religiões. As diferenças não apagam as semelhanças”, afirma Maria Laura.
E assim, identificado com o Cristianismo, o novo credo se alastrou pelo mundo. Chegando ao Brasil em 1860, o Espiritismo logo foi adotado por intelectuais, militares e funcionários públicos. Porém, o rastro de perseguição também chegou até aqui. O Código Penal de 1890 classificava o Espiritismo como crime. Apesar disso, a religião se fortalecia e expunha à população um dos seus lados mais meritórios: a caridade. E o ato de fazer bem às comunidades próximas dos centros espíritas se tornou uma marca tão forte no Espiritismo brasileiro que ajudou a transformar a religião e a lhe emprestar uma face tipicamente verde-amarela. É isso, em parte, que ajuda a explicar o salto quantitativo do Espiritismo no Brasil.
Há até uma cidade fundada exclusivamente por espíritas. Palmelo, a 200 quilômetros de Goiânia, GO, surgiu a partir da criação de um centro espírita, em 1929. Recebendo cerca de 50 000 visitantes todos os anos, que ali procuram consolo para inúmeras aflições físicas e espirituais, Palmelo (que foi emancipada em 1953) não permite a venda de bebidas alcoólicas e, em suas ruas, placas apresentam “pílulas” de ensinamentos espíritas extraídos dos livros de Allan Kardec.
A cidade goiana, porém, é um fato isolado. No resto do Brasil, os agrupamentos espíritas distinguem-se pela sobriedade e pelos baixos níveis de proselitismo. E mesmo com sua enorme difusão em terras brasileiras, a religião continua sendo, até hoje, uma fé professada pela classe média urbana (que, por receio de discriminação, não costuma ostentar traço algum da sua opção religiosa). “O Espiritismo difundiu-se entre profissionais liberais e pessoas da classe média dos centros urbanos porque exige leitura e instrução”, afirma Marcelo Camurça, professor de Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais.
Quem já freqüentou um centro espírita sabe disso. A atmosfera lembra ligeiramente um congresso universitário. Um auditório atento, muitas vezes municiado de algum dos livros de Kardec, escuta as leituras e os comentários feitos por um ou mais “palestrantes” reunidos em uma mesa. Tudo de um modo sóbrio e nada espetaculoso. “A sobriedade é uma das maiores fontes de identificação do Espiritismo entre a classe média”, afirma Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti.
A disciplina é outra exigência não assumidamente declarada. Vai daí o grande número de militares que, desde os primórdios, mergulhou nos ensinamentos de Kardec. Um dos mais famosos espíritas fardados do Brasil é o general Alberto Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional e líder de um centro espírita na capital federal.
Por causa de suas origens declaradamente científicas e pelo discurso que prega a racionalidade, o Espiritismo vem atraindo médicos – céticos diplomados e profissionais – nas últimas décadas. Fundada em 1968, a Associação dos Médicos Espíritas do Brasil (Amebrasil) reúne cerca de 1 200 médicos que estudam e tentam transpor para a prática diária da Medicina alguns dos princípios do Espiritismo.
É uma questão polêmica. O Espiritismo prega o tratamento homeopático e são célebres na trajetória brasileira da religião os casos de médiuns (como o mineiro José Arigó, que incorporava um suposto doutor Fritz e, inspirado por ele, fazia escatológicas cirurgias em milhares de pessoas entre os anos 50 e 70) que reúnem multidões de desvalidos em operações de fundo de quintal. Está-se falando de dois elementos que configuram prática ilegal da Medicina: receitar remédios e operar doentes sem licença para isso.
No entanto, esses aspectos não são levados em conta pelos médicos espíritas. “Sempre usei a alopatia e o próprio Chico Xavier sempre se operou pela Medicina tradicional”, afirma Marlene Rossi Severino Nobre, médica aposentada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo e presidente da Amebrasil. Marlene – que trabalhou com Chico em Uberaba no início da década de 60 e com ele chegou a psicografar algumas obras – não divisa conflito algum entre Medicina e Espiritismo. “O médico espírita leva aos seus pacientes os ideais de caridade da doutrina Espírita”, diz. “A Medicina é muito reducionista”, afirma. Para ela, a única explicação para a vida biológica, para o surgimento das células e para a evolução do Homem é a ação de forças superiores, ainda pouco compreendidas pela humanidade.
Nos próximos anos, os médicos da Amebrasil pretendem intensificar uma série de experimentos para comprovar eventos como campo magnético e experiências de quase-morte, até hoje inexplicados pela ciência tradicional. Sem contar com aval universitário algum, nem com qualquer tipo de estímulo de órgãos tradicionais de fomento à pesquisa como Capes e CNPq, a Amebrasil equilibra-se numa corda-bamba entre ciência e fé. É uma polêmica que promete esquentar os meios médicos e espíritas brasileiros num futuro próximo.
Mas um comportamento sóbrio, a prática da caridade e a adesão crescente de setores da Medicina não explicam totalmente o ibope do Espiritismo no Brasil. A fé espírita germinou aqui mais do que em qualquer outro lugar porque encontrou um terreno fértil para grande parte de seus princípios. Uma mistura muito brasileira de crenças católicas populares herdadas de Portugal, adoração aos mortos e religiosidades indígena e negra ajudou a alastrar o alcance da fé (veja quadro na página 51).
E foi no Brasil que surgiu o maior médium desde Allan Kardec. Francisco Cândido Xavier (1910-2002), franzino e modesto, com uma saúde combalida desde sempre, encarnou como ninguém os ideais de comedimento, benevolência e austeridade do Espiritismo. Sua adesão à fé obedeceu aos insondáveis princípios de uma predestinação.
Órfão ainda na infância, Chico teria começado a se comunicar e a se aconselhar com o espírito da mãe. Na escola, durante as comemorações do Centenário da Independência, em 1922, a turma de Chico deveria escrever uma redação sobre o acontecimento nacional. Durante a aula, o menino teria se perturbado com a presença de um homem ao seu lado, ditando-lhe o texto – que obteve menção honrosa.
Com 18 anos e buscando uma explicação para os fenômenos que o teriam acompanhado desde a infância, Chico já é um freqüentador de centros espíritas. E logo fica bem claro para todos que aquele rapaz de saúde frágil é um médium destinado a limpar as últimas nódoas de marginalidade que ainda recobrem o Espiritismo no Brasil. É a partir desse momento que ele teria entrado em contato com as primeiras manifestações do espírito Emmanuel – o que lhe renderia o posto de “co-autor” de nada menos que cerca de 400 títulos por ele psicografados sob inspiração do espírito e que venderam 25 milhões de livros em todo o mundo.
Com Emmanuel (que teria sido o senador romano Publius, depois um escravo cristão dilacerado por leões e, finalmente, o padre Manuel da Nóbrega, já em terras brasileiras), Chico realizou vários avanços na doutrina formada por Kardec, alastrando a sabedoria espírita para outros campos, como ciências sociais e economia. Imbuído do espírito de caridade, Chico destinou toda a renda a entidades sociais e aposentou-se com um modesto salário de funcionário público.
Quando morreu, em 30 de junho deste ano, deixou uma multidão de seguidores e leitores em todos os cantos do planeta e uma lição de humildade e amor ao próximo que transcende os limites do Espiritismo.
O QUE PREGA
Para entender o Espiritismo, é preciso saber que a base de toda a religião está exposta nas cinco obras seminais de Allan Kardec. Desde esse nascimento na França oitocentista, o Espiritismo reivindica não apenas um status de religião, mas também de ciência e de filosofia. Ou seja: é uma fé e uma doutrina cujas manifestações – contato com espíritos, regressões a vidas passadas e textos psicografados – poderiam ser comprovadas através do método dedutivo herdado da ciência.
Segundo o Espiritismo, todo homem é um médium, um canal de comunicação entre os vivos e os espíritos. Por isso, não existe um papa espírita nem qualquer tipo de hierarquia dentro da religião (a ausência de paramentos e cerimoniais também é uma característica “racionalista” dentro da fé espírita). Nos centros espíritas, por exemplo, a função de liderança geralmente está reservada ao médium mais experiente ou ao próprio fundador do centro.
A simplicidade pregada pelo Espiritismo também estaria explicitada pela inexistência de grandes rituais de passagem como casamentos, batismos e enterros. Isso porque os espíritas acreditam ser desnecessário o vínculo com Deus – “a inteligência suprema”, como prega Allan Kardec. Céu, inferno e diabo virtualmente não existem no horizonte espírita. Isso porque o Bem e o Mal podem estar dentro de cada um, sem que haja a necessidade de uma localização para cada um.
Os médiuns comunicam-se com os espíritos das mais diversas maneiras. Houve um tempo em que a comunicação se dava por meio de batidinhas na parede, mas hoje, na maioria dos centros espíritas, as principais formas de comunicação costumam ser a psicografia e a incorporação. Em sessões chamadas de “desobsessão” (quando um espírito cheio de más intenções incomoda uma pessoa), os médiuns incorporam essas entidades chamadas “obsessoras” e procuram convencê-las da falta de sentido em assombrar a vida dos “encarnados”.
O Espiritismo acredita que os espíritos são criados numa espécie de “ponto zero”, onde todos são imperfeitos e devem chegar – ao longo de várias e sucessivas encarnações – à perfeição. A cada encarnação o espírito aprende um pouco mais sobre bondade, tolerância e caridade. Claro que nem todos são “santos”: o livre-arbítrio (a capacidade de cada um escolher o seu destino) é um elemento importante da religião. Por isso, haveria espíritos deliberadamente “maléficos” fadados a intermináveis (e sofridas) encarnações na Terra. Os espíritos só se tornarão mais iluminados e superiores na medida em que forem eliminando seus maus hábitos, os aspectos ruins do seu caráter e passarem a praticar o bem.
Um fato curioso é a crença dos espíritas na vida em outros planetas. “Os espíritos são intergalácticos”, afirma Durval Ciamponi, da Federação Espírita de São Paulo. Isso não significa, necessariamente, a existência de ETs pilotando discos voadores pelo espaço sideral: mas formas de vida – inclusive minerais – que são habitadas por espíritos em diferentes estágios de evolução em lugares tão inóspitos quanto Saturno ou Plutão. Essa crença numa força divina interplanetária fez do Espiritismo, desde a década de 1960, um dos elementos que ajudaram a compor as religiões new age. “O Espiritismo antecipa toda essa onda de religiões e doutrinas da Nova Era”, afirma Marcelo Camurça, da UFJF.
Kardec fatiou o homem em três porções básicas: espírito (“essência imortal”), corpo (“invólucro material”) e perispírito (“corpo” que reveste o espírito). Quando uma pessoa morre, sua alma e seu perispírito libertam-se do corpo e passam a seguir um trajeto rumo à reencarnação. Um espírito irá encarnar tantas vezes quantas forem necessárias para atingir a perfeição. O mundo material, portanto, seria uma espécie de universidade onde os espíritos aprendem com as provações.
É nesse mundo que nos coube viver que cada ação seria avaliada como mais um aspecto da evolução pessoal. O velho adágio “aqui se faz, aqui se paga” recebe, no Espiritismo, uma validade bastante concreta. E são essas “dívidas”que explicariam, por exemplo, o nascimento de uma criança sem cérebro ou a paralisia de um adulto: tragédias pessoais que, do ponto de vista da doutrina, seriam necessárias para que o espírito refletisse e compreendesse que todos os reveses acontecem para seu benefício durante a evolução.
Temas incandescentes como aborto, eutanásia e suicídio são condenados – como na maior parte das religiões –, mas sua possibilidade existe porque cada um conta com o livre-arbítrio.
O percurso evolutivo de cada um explica as diferenças sociais, de saúde ou de capacidade intelectual. As benesses ou tragédias de cada um fazem parte do carma – que pode ser revertido graças a ações meritórias. Pois fazer o bem para os outros, no Espiritismo, é fazer o bem para si mesmo. Por isso a caridade é um dos elementos mais importantes da religião: ela serve para amenizar o sofrimento alheio e “conta pontos” na evolução de quem a pratica.
“Fora da caridade não há salvação”, prega a mais famosa frase de Allan Kardec. Pode-se discordar ou mesmo refutar desdenhosamente os princípios do Espiritismo. Porém, é virtualmente impossível fazer troça ou ignorar o legado de respeito ao próximo difundido por essa religião. Um princípio que, tranqüilamente, pode ser seguido por qualquer um que habite o nosso planeta. Acredite em Deus ou não.

Pequeno vocabulário espírita
Nas cinco obras que deixou para a posteridade, Allan Kardec estabeleceu os princípios básicos da doutrina espírita. Uma curiosa mistura de conceitos religiosos com alguma terminologia científica do século XIX. Conheça alguns dos principais termos do Espiritismo:
Universo
Criação de Deus. Todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados fazem parte dele. Comporta vários mundos habitados com seres em diferentes graus de evolução.
Deus
É considerado uma forma de inteligência suprema. Eterno, imutável, imaterial, justo, bom e onipotente.
Cristo
Ao contrário do que pregam a maior parte das religiões cristãs, Jesus Cristo não é o filho de Deus, mas um espírito mais evoluído. E um modelo para toda a humanidade.
Espíritos
Seres inteligentes da criação. São criados ignorantes e evoluem ao longo de várias vidas até alcançarem a perfeição. Dividem-se em “espíritos puros” (perfeição máxima), “bons espíritos” (em que predomina o desejo do bem) e “espíritos imperfeitos” (caracterizados pelo desejo do Mal).
Homem
Espírito encarnado em um corpo material.
Reencarnação
O espírito atravessa várias existências como encarnado. Cada uma delas é um estágio evolutivo rumo à perfeição.
Desencarnar
A morte (desencarnação) é encarada como apenas mais um estágio da vida espiritual – considerada a verdadeira vida. Não é compreendida como uma cisão definitiva entre as pessoas que se amam, mas apenas uma separação temporária no mundo físico.
Livre-arbítrio
O homem tem várias escolhas na vida, mas responde por todas as suas ações.
Prece
A prece torna melhor o homem e é um ato de adoração a Deus.

Abençoado por Deus
Paradoxos do país tropical: a maior nação católica do mundo (cerca de 125 milhões de praticantes, segundo o censo do IBGE) ofereceu, desde os primórdios da colonização, um terreno fértil para a mistura de credos e favoreceu o surgimento de modalidades de fé genuinamente brasileiras. Religiões tão diversas quanto Candomblé, Catimbó, Pajelança, Tambor de Mina, Umbanda e a face nacional do Espiritismo formaram-se a partir de elementos comuns.
Uma das maiores explicações para o sincretismo brasileiro estaria no Catolicismo legado pelos portugueses. A fé católica que veio de além-mar é muito mais “íntima” e “pessoal” do que a de outros países cristãos da Europa. Em Portugal e, em seguida, no Brasil, a relação dos homens com Deus geralmente é filtrada pelo santo da predileção de cada um. Antes de recorrer a Deus, portugueses e brasileiros vão bater na porta do santo mais próximo. A profusão de anjos da guarda, de rezas particulares e de toda uma sorte de benzeduras favoreceu a mescla de elementos cristãos com outros originários dos rituais indígenas e africanos.
Outro elemento do Catolicismo popular que iria ser combinado com práticas religiosas nativas é a adoração aos mortos. Procissões populares e mesmo o hábito de “conversar” ao pé do túmulo de um ente querido favoreceram a penetração de credos em que o contato com o mundo dos mortos é um dos elementos básicos – como o Espiritismo.
Assim como, no campo racial, a mestiçagem serviu para anestesiar certos conflitos, a Igreja portuguesa soube incorporar – ou, no mínimo estrategicamente, não quis condenar – algumas manifestações religiosas inspiradas no Catolicismo que surgiram ao longo da história brasileira. Festas populares repletas de elementos de outros credos, divindades africanas que poderiam ser “permutadas” por equivalentes na fé cristã (Oxalá Jovem = Menino Jesus) e o saudável livre-trânsito, tipicamente nacional, entre mundos religiosos paralelos (milhões de brasileiros comparecem às quartas no terreiro e aos domingos na missa), forjaram a democracia religiosa nacional.
“O Catolicismo no Brasil sempre favoreceu a mistura”, diz a médica e pesquisadora Eneida D. Gaspar, autora do Guia de Religiões Populares do Brasil. Eneida afirma que foi graças a essa postura mais flexível da Igreja que religiões como Umbanda – uma mistura de elementos cristãos, espíritas e africanos – ganharam forma no início do século XX.
Mas nem tudo são flores na trajetória das religiões brasileiras. A maior parte delas foi condenada no início justamente porque apresentava forte influência africana. Terreiros de Candomblé eram sistematicamente fechados pela polícia ainda nos anos 50.
A forma encontrada para o fim da discriminação diz muito sobre a alma brasileira: quando brancos de classe média, com conhecimento do Espiritismo, ingressaram nos terreiros, a nuvem de preconceito rapidamente se dissipou.
A Umbanda é um caso exemplar dessas transformações da religiosidade brasileira. Mesclando os principais ensinamentos do Espiritismo com o ritualismo e a força teatral do Candomblé, a Umbanda fez com que o preconceito contra práticas africanas – no idioma da discriminação, todas as religiões negras são “macumba” – fosse diminuindo com o passar dos anos graças à freqüência de um público de maior poder aquisitivo.
Paradoxalmente, no momento em que a Igreja parou de discriminar outras crenças, incorporando elementos africanos e indígenas, as igrejas neopentecostais – ou evangélicas – desestimulam seus fiéis à prática do sincretismo. Associam-no à prática de satanismo.

Frases
O “passe” é um dos elementos mais fortes do Espiritismo. Durante a sessão, o médium transmitiria a outras pessoas forças consideradas benéficas para sua saúde física e espiritual
A leitura dos livros básicos do Espiritismo é uma das exigências da religião iniciada por Allan Kardec
Kardec chegou a estudar Medicina, mas logo perdeu o interesse pelo mundo concreto
Nos primórdios do Espiritismo, a Igreja Católica queimava os livros de Kardec nas praças
O mundo dos espíritos – a alma de pessoas que morreram – comunica-se com os vivos por meio do pensamento e de textos psicografados
Alguns espíritos considerados mais evoluídos transmitiriam ensinamentos e contariam histórias através da psicografia. Somente Chico Xavier, que teria incorporado Emmanuel, publicou mais de 400 livros
No Brasil, grande parte dos conflitos religiosos foram amenizados pelo sincretismo
Os espíritas acreditam que um copo d’água como este pode ser energizado durante as sessões

Para saber mais
Na livraria
Espiritismo, Eduardo Araia, Ática, São Paulo, 1996
Guia de Religiões Populares do Brasil, Eneida D. Gaspar, Pallas, Rio de Janeiro, 2002
O Que é Espiritismo, Allan Kardec, Instituto de Difusão Espirita, Araras, 1990
A Realidade Social das Religiões no Brasil, Antônio Flávio Pierucci e Reginaldo Prandi, Hucitec, São Paulo, 1996
A Magia, Antônio Flávio Pierucci, Publifolha, São Paulo, 2001
Na Internet
www.febrasil.org.br

MiTXchELLL: HISTORIADOR, FILOSOFO, PEDAGOGO, TEOLOGO, ESTUDANTE ETERNO E PECADOR SALVO PELA GRAÇA DE DÍOS!